sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Dia da Consciência Negra: 20 de novembro

Adelmar Santos de Araújo*

O dicionário Aurélio define data como indicação precisa do ano, mês ou dia da passagem de algum fato; data anotada em cartas, tempo, época. E datar, significa pôr data; exprime algo que dura, existe a partir de algum tempo, por exemplo: a abolição da escravatura data de 13 de maio de 1888. As datas que os indivíduos mais gostam de lembrar são as de seu aniversário ou de parentes ou de pessoas muito próximas. Além do mais existem as comemorativas, criadas pela tradição popular ou impostas pelas elites governantes, geralmente feitas feriados. As pessoas até brincam que o Brasil tem muitos feriados. Mas há aqueles que aproveitam disso para realçar a imagem dos heróis propostos pela elite e disfarçar seu interesse em apagar a lembrança dos que lutaram em prol da maioria da população, sejam eles trabalhadores brancos pobres, índios ou negros.
É fácil entender. Quando a República foi implantada no Brasil os líderes do novo regime sentiram a necessidade da figura de um herói e, curiosamente, desenharam a imagem de um mártir parecido com Jesus Cristo: Tiradentes. Não buscaram um índio, um negro ou uma mulher. Muito menos voltaram o olhar para o centro-norte do país.
O dia 20 de novembro é uma dessas datas que enfrenta sérias resistências quanto a sua consolidação rememorativa. Isto explica porque só em 9 de novembro de 2003, através de um árduo processo de lutas silenciosas e do movimento social, instituiu-se a lei número 10. 639 que estabeleceu essa data como o dia da Consciência Negra. A partir daí foi aprovado um estatuto da “igualdade racial”. Certamente foi uma conquista, mas a lei deixou de lado propostas fundamentais, além de não caracterizar a escravidão e o racismo como crimes de lesa-humanidade, conforme o acordo internacional, que por sinal o Estado brasileiro assina em baixo. Além disso, o estatuto não se posiciona a respeito da proteção de jovens negros, que recebem abordagens especiais por parte das polícias militares estaduais.
Apesar dos entraves, a história nos mostra personagens que merecem diariamente a nossa homenagem e que servem de inspiração de combate ao racismo e luta contra o sistema que dele se beneficia. Há exatos cem anos, em 22 de novembro de 1910, estourava a “Revolta da Chibata” liderada por João Cândido. O levante popular dos marinheiros negros do Rio de Janeiro era contra os castigos corporais, os baixos salários na marinha, o tratamento discriminatório das elites dos oficiais e
também lutavam por melhores condições de trabalho. Se recuarmos ao período colonial encontraremos Zumbi, que tornou-se dirigente de Palmares em 1678 e foi morto em 20 de novembro de 1695. A resistência de Zumbi não nos legou apenas a escolha do 20 de novembro como dia da consciência negra, mas também contribuiu para a constatação de que para se livrar efetivamente da escravidão é necessário, antes de mais nada, construir um novo tipo de sociedade, a começar livre da discriminação, miséria e opressão.
Parece redundante dizer que o escravo sempre renegou a escravidão e a falta de liberdade que dela decorria, mas não é. Do mesmo modo, não é exagero afirmar com Ianni que a abolição foi um negócio de brancos. Veja: em sete de maio de 1888 a Câmara dos Deputados do Brasil recebeu um projeto de lei composto de dois únicos artigos. Um declarava o fim da escravidão e o outro revogava as disposições em contrário. Nada mais.
E assim, seria ingênuo e anacrônico esperar que a princesa Isabel, ao assinar a Lei Áurea em 13 de maio de 1888, tivesse alguma preocupação com a vida dos libertos a partir de então. Não foi por acaso que os ideais abolicionistas (é claro, por parte dos que de alguma forma faziam parte do poder) foram deixados para trás e, concomitantemente, as oportunidades necessárias à integração socioeconômica dos ex-escravos foram-lhes negadas.
As datas, querendo ou não, tem a sua importância histórica, mas de nada adianta se elas não se soltarem das amarras do passado e não contribuírem para com melhores expectativas de futuro. Assim vemos o 20 de novembro. Que essa não seja apenas mais uma data a ser lembrada de ano em ano, mas que inspire a unidade dos demais oprimidos, sejam eles brancos pobres, índios ou negros.

Fontes de consulta
QUEIROZ, Suely R. Reis de. A abolição da escravidão, 3ed., (Coleção Tudo é história), São Paulo: Brasiliense, 1986.
http://www.pstu.org.br, acesso em 17/11/2010
http://www.suapesquis.com/datascomemorativas/dia consciencia negra.htm, acesso em 17/11/2010.


* Mestre em Educação e professor de história.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O poder da Imagem



“Uma imagem contem mais de mil palavras”, já dizia um antigo provérbio chinês.
A primeira impressão é a fica, diz o senso comum. Essa aprendida pelos três principais (Dilma, Serra, Marina) presidenciáveis, conforme o olhar burguês. Aliás, o próprio atual presidente do Brasil no visual quando percebeu a possibilidade de vitória nas eleições de oito anos atrás. Mas, felizmente, a imagem físico-visual não é a única nem a que consideramos mais importante. Existe a imagem ética, cultural, social, democrática, cidadã, humana. Por qual imagem primam os candidatos a presidente do Brasil?
No dia 19 de agosto de 2010 o candidato tucano, José Serra, abriu seu programa no horário eleitoral gratuito com imagens do presidente Lula. A pergunta é: por quê isso se Lula é o “principal cabo eleitoral”, nos dizeres de O Popular de 20 de agosto de 2010, p. 17, da candidata Dilma, sua adversária? Que os dois “homens de história”, como forma chamados, nós sabemos (também somos), mas qual história? A imagem que tentam nos mostrar é transparente, capaz de libertar a consciência ou confunde ainda mais a visão do povo brasileiro?

terça-feira, 9 de março de 2010

DIA DA MULHER. ALGUMAS PALAVRAS...

O poeta itabirano Carlos Drummond de Andrade certa vez escreveu: “Para entender uma mulher é preciso mais que deitar-se com ela... Há de se ter mais sonhos e cartas na mesa que possa prever nossa vã pretensão”. As palavras de Drummond não são apenas belas, verdadeiras, sinceras. Elas nos remetem a uma profunda reflexão.
A sociedade globalizada, com sua ideologia gestionária, tende a transformar em mercadoria os diversos aspectos da cultura (material e imaterial) humana - inclusive os registros do amor e da sexualidade não escapam a tal ideologia. Comerciantes, propagandistas, e, até (ou sobretudo?) os demagogos bolam estratégias para as inúmeras datas comemorativas ao longo do ano; com o Dia Internacional da Mulher não é diferente. Não falta quem não queira enaltecê-las, homenageá-las, como se só nesse dia elas pudessem merecer o seu devido valor, respeito e dedicação como pessoa humana. Às vezes chegam até a torná-las seres assexuadas, ou sagradas, descontextualizadas. E assim, esquece-se que a autonomia da sociedade passa pela autonomia do indivíduo, enquanto homens e mulheres; que não há como falar em cidadãos livres numa sociedade em que “alguns são mais livres que os outros”. Portanto, pensar a questão das mulheres enquanto gênero é fundamental, mas é desleal tratá-las como se todas fossem iguais, como se tivessem as mesmas oportunidades e condições de trabalho, afinal, o gênero as une, mas a classe as separa.
Todavia, hoje em dia, as mulheres de um modo geral têm realizado grandes conquistas, o que corrobora para que o 8 de Março seja sempre lembrado. Que não esqueçamos as mais de cem mulheres operárias de uma fábrica de tecidos em Nova Iorque, no ano de 1857, que foram queimadas vivas por reivindicar melhores condições de trabalho e melhor remuneração; que não esqueçamos as mulheres trabalhadoras de hoje em dia. A luta das mulheres é uma luta justa, afinal elas já receberam um terço do salário dos homens, desempenhando o mesmo trabalho.
Contudo, não deixemos que as mazelas sociais e as durezas da vida cotidiana apaguem o brilho do nosso olhar e a chama da poesia quando se trata de homenagear a mulher, essa figura encantadora e enigmática. A rainha do òikos (espaço familiar), desde os gregos, não aceita mais a submissão perante o homem; que o mito das Amazonas, mulheres guerreiras, inspire todas as mulheres, sobretudo as que amamos. Afinal, o dito popular de que “atrás (elas dizem ao lado) de um grande homem há sempre uma grande mulher”, é verdadeiro. Não fosse assim, o que seria de Ulisses, herói grego, sem Penélope, de Teseu sem Ariadne, de Jasão sem Medéia? Para não ir longe, sem a mulher (minha mãe) que me colocou no mundo, eu não teria escrito esse texto. PARABÉNS MULHER PELO SEU DIA-A-DIA!

sábado, 30 de janeiro de 2010

AMAZÔNIA: HISTÓRIA E LENDA


Adelmar Santos de Araújo

A conquista do espaço amazônico, ou seja, a exploração dos recursos florestais de forma comercial, bem como o estabelecimento de núcleos humanos apresentando soberania em relação a outros e a penetração dos grandes cursos fluviais está dividida em dois períodos. Durante o processo de colonização efetuado pelos portugueses ocorreu o primeiro período. O segundo período está ligado à exploração das héveas a partir da segunda metade do século XIX. A fronteira legada pelos portugueses no início da colonização foi empurrada pelo empreendimento da exploração da borracha. Grossos contingentes de migrantes nordestinos, em sua maioria cearenses, alcançaram os altos rios amazônicos (REIS, 1953).
Se hoje a Amazônia é escancaradamente cobiçada pelas grandes potências imperialistas, séculos atrás não era muito diferente – mais precisamente a partir da disputa pelas terras do Novo Mundo entre portugueses e espanhóis. O Tratado de Tordesilhas, mediado pela Igreja, dividiu o direito de exploração do continente entre Portugal e Espanha. Segundo os ajustes desse tratado, a Amazônia seria espaço integrante das conquistas espanholas. Na verdade a linha de Tordesilhas que oficialmente demarcava a fronteira entre essas possessões nunca foi levada muito a sério, sobretudo entre ingleses, franceses e holandeses que a partir do século XVII, a serviço de empresas comerciais estavam criando estabelecimentos mercantis e militares ao longo do Amazonas. Conforme Tocantins (1979), o Tratado de Tordesilhas já nasceu “caduco”.
Curiosamente, as duas Coroas que se rivalizavam nos cometimentos marítimos, foram unificadas por Felipe II da Espanha em 1580 por ocasião da morte de Dom Henrique. Durante os 60 anos de aparente unidade amistosa, a Espanha parece não ter percebido a gravidade de muitos acontecimentos que mudariam radicalmente a posição geográfica de Portugal no Novo Mundo no momento da sua independência política em 1640 (TOCANTINS, 1979). Após essa data reincidiu a disputa entre os países ibéricos por colônias na América do Sul, ocorrida ao longo de boa parte de nossa história colonial. Mas os portugueses mostraram-se habilidosos em matéria de diplomacia, por exemplo, ao estabelecerem o princípio do uti possidetis como base para a divisão territorial. Este princípio determinava que a terra devesse ser possuída pelos que trabalhavam e que nela moravam; tal princípio tornou-se um instrumento importante para que os portugueses pudessem consolidar sua presença no imenso território que hoje é o Brasil.
Em meados do século XVIII pouco se conhecia sobre o interior do continente americano, e, menos ainda se conhecia sobre a Amazônia. O que não quer dizer que esta região fosse uma região despovoada. Nesse sentido, seria incorreto afirmar que os portugueses povoaram a Amazônia; seria mais fácil falar de despovoamento, tendo em vista o gigantesco número de índios que foram escravizados e massacrados pelos portugueses a partir do século XVII. “Os índios foram os primeiros produtos de exportação da Amazônia para Portugal” (SOUZA, 1992, p. 33).
Pode-se dizer que um dos períodos mais estudados da história amazônica é o que se refere à exploração da borracha, concomitantemente à imigração nordestina para aquela região a partir de 1850. Esse período desdobra-se em outros dois. A intensificação da imigração nordestina começa a partir de 1870 e se mantém num ritmo progressivo até mais ou menos 1912 – primeira batalha da borracha (primeiro surto). O período compreendido entre 1942 a 1945 ficou conhecido como segunda batalha da borracha (segundo surto).
Tem-se a década de setenta do século XIX como marco do chamado primeiro surto da borracha. Esse fenômeno levou para a Amazônia milhares de trabalhadores nordestinos. A década de setenta do século XIX foi também a década que acontecia uma das maiores secas do Nordeste brasileiro. Além disso a questão agrária agravava ainda mais os problemas dos trabalhadores pobres. Seja pela seca, ou pelo latifúndio ou por quaisquer outras razões, grandes levas de trabalhadores nordestinos foram “tangidos” em direção à Amazônia. A aventura de enfrentar a selva através do corte da seringa, geralmente, representava a esperança de uma vida melhor (BENCHIMOL, 1977). Na maioria das vezes o trabalhador alimentava o sonho de enriquecer e depois retornar a sua terra natal, o que dificilmente acontecia. Por outro lado, com os grandes grupos econômicos a história é outra: se para a maioria dos trabalhadores a ida para a Amazônia foi impulsionada por mazelas sociais, os interesses do capital internacional na região estão voltados para atender as transformações econômicas, políticas, sociais e culturais fomentadas pela segunda revolução industrial a partir da segunda metade do século XIX. Da mesma maneira, a partir de 1941-1942 o capital estrangeiro defendeu assiduamente seus interesses na região: os aliados para vencerem a guerra precisariam de uma importante matéria-prima, que naquele momento só na Amazônia brasileira havia em quantidade suficiente – a borracha natural, o látex. Os acordos de Washington definiram que o Brasil tornaria essa matéria-prima acessível aos aliados, mas, para isso foi preciso o alistamento de milhares de trabalhadores brasileiros, principalmente nordestinos, para o corte da seringa. Os “soldados da borracha”, que muito contribuíram para com a vitória dos aliados não tiveram o devido reconhecimento.
Embora a História da Amazônia brasileira não tenha sido satisfatória aos nordestinos que para lá foram, nem aos nativos da região e outros, a miscelânea entre esses povos constituiu populações específicas, mas que se identificam, entre outras formas, nas tradições orais. A luta pela sobrevivência e as experiências de vida foram firmando tradições e foram constituindo o modo de vida dos povos da floresta. As lendas e histórias que foram e continuam sendo transmitidas a cada geração de amazônidas envolvem o homem regional com suas diferentes ocupações, seus valores, tradições e crenças, a fauna e a flora predominantes em cada lugar; afirmam o seu valor medicinal, curandeirismo, alimentício e de ornamentação em sintonia com a necessidade de preservação e manutenção do equilíbrio ecológico (OLIVEIRA, BADER, 1985).
O cotidiano do amazônida vem sendo, ao longo da história, recheado de estórias e lendas que o servem de registro, auto-afirmação, entretenimento, reprodução, conhecimento e sobrevivência. Personagens lendárias, como a Mãe-da-mata, apresentam-se de forma sugestiva à discussão sobre questões ecológicas. Segundo a lenda, a Mãe-da-mata é uma mulher muito bonita que está sempre montada num bicho parecido com uma anta e que tem a missão de proteger a fauna e a flora dos que exploram de forma predatória os recursos naturais, como “mal-seringueiro” que cortava as árvores e matava animais para vender o couro, a pele. Mas ao “bom-seringueiro” a Mãe-da-mata promete abundância de leite no corte da seringa e permite a caça para alimentação da família.

Esta lenda constituiu-se num excelente recurso para desmistificar a associação de fada com uma frágil mulher loura, de olhos azuis e varinha de condão, passando-se a associar fada com a nossa mãe-da-mata, mulher valente, morena, de traços marcantes – cabocla, valente (OLIVEIRA, BADER, 1985, p. 70).

Outra importante personagem lendária da Amazônia é o Curupira. Entidade protetora das matas e vigilante de todos que nelas habitam, o Curupira também protege o seringueiro e ou caçador que busca na mata apenas o necessário para sua sobrevivência. Os que barbaramente sacrificam os recursos naturais, como a “caçada sem precisão”, não são poupados pelo Curupira. No Acre, a imagem do Curupira mais conhecida é a de um menino, caboclinho, peludo, de cabelos avermelhados, os calcanhares para frente e os dedos para trás. Segundo a lenda, a capacidade de metamorfose do Curupira ajuda na perseguição, ludibriação e martirização do caçador malvado, que para atraí-lo o Curupira, geralmente, toma a forma de um animal que certamente será seguido floresta adentro. Depois que ambos, caçador e suposto animal, penetraram o interior da mata, o Curupira num piscar de olhos desaparece deixando o seu perseguidor inteiramente perdido.
Além das duas lendas acima citadas, são também conhecidas: Cipó-jibóia, Guaraná, O boto, Mapinguari, Matinta-Pereira, Caipora, Uirapuru, lenda da Mandioca, entre outras. E, conforme Leandro Tocantins (1984, p. 80), “estas lendas possuem raízes indígenas, africanas e européias. Ganharam sua própria versão, trabalhadas pelas populações nordestinas e regionais. São comuns em toda a Amazônia.”
A exemplo de quaisquer outras, não se pode identificar com precisão uma data para o início das lendas amazônicas. Basta saber que elas estão inseridas no processo de determinado período histórico de longa duração. No entanto, o mais importante é compreender que ao se falar no desenvolvimento de exploração da região amazônica tais lendas cumpriram e cumprem papel fundamental na defesa do equilíbrio ecológico, valorização econômica, cultural e social – em que pese o grau de politização, e consciência.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENCHIMOL, Samuel. Amazônia: um pouco antes e além - depois. Manaus, Editora Humberto Calderaro, 1977.
MARTINELLO, Pedro. A “Batalha da borracha” na Segunda Guerra Mundial e suas conseqüências para o vale amazônico, São Paulo: USP, 1985. (Tese)
OLIVEIRA, Maria da Glória Queiroz, BADER, Clara Elizabeth Simão. Educação ambiental para alfabetizar, Rio Branco: UFAC, 1985.
REIS, Arthur Cesar Ferreira. O seringal e o seringueiro, Rio de Janeiro: Serviço de Informação Agrícola, 1953.
SOUZA, Carlos Alberto Alves de. História do Acre, Rio Branco: M.M. PAIM, 1992.
TOCANTINS, Leandro. Estado do Acre: geografia, história e sociedade, Rio de Janeiro: Philobiblion, 1884.
______. Formação histórica do Acre, Rio de Janeiro: Conquista, 1979, v.1.

sábado, 31 de outubro de 2009

A poesia te embala...

“A poesia te embala, até te encanta, é uma cantiga de niná”- disse certa vez a atriz Cássia Kiss. Eu simplesmente acrescentaria: a poesia também te põe para a briga.

terça-feira, 7 de julho de 2009

O FUSCA DO CIDADÃO


A HISTÓRIA DE UM SÍMBOLO (de 1932 à 1998) Texto extraído de:
http://www.exactaexpress.com.br/historiadofusca.

1932 - Ferdinand Porsche, nascido no dia 3 de setembro de 1875 no Império Austro-Húngaro, esboça o desenho do Fusca.
1934 - Porsche cria o NSU, protótipo do Fusca que rodou até 1955, quando foi adquirido pelo Auto-Museum da Volkswagen, na Alemanha.
1935 - Porsche recebe 200 mil marcos do governo alemão para, no prazo de dez meses, produzir três protótipos.
1936 - Da garagem da casa de Porsche, com 16 meses de atraso, saem três protótipos batizados de Volksauto-série VW-3, que seriam testados por 50 mil Km.
1937 - A associação entre Porsche, Daimler-Benz e Reuter & Co. produz mais de 30 protótipos, batizados de VW-30, e realiza 2,4 milhões de Km de testes. O governo alemão, já sob o comando de Adolf Hitler, cria uma empresa estatal e viabiliza a fabricação do carro. O capital inicial, de 50 milhões de marcos, veio da Kdf (iniciais em alemão de Força da Alegria), um dos departamentos da Frente Trabalhista Alemã, o sindicato oficial. O nome original do veículo, Kdf-Wagen, não pegou Porsche viaja para os Estados unidos para visitar as linhas de montagem de Detroit e se encontrar com Henry Ford.
1938 - Começam a ser contruídas em Fallersleben, na baixa Saxônica (região entre o rio Reno e o mar Báltico), a fábrica para a produção do carro e uma cidade para 90 mil habitantes, destinada aos futuros operários e suas famílias. Depois, a cidade recebeu o nome de Wolfsburg. Parte do dinheiro destinado às obras provinha de alemães que, mesmo sem saber a data da entrega, queriam um Kdf-Wagen.
1939 - Com o início da II Guerra Mundial, os Kdf-Wagen não chegam a ser fabricados e a nova fábrica estréia produzindo veiculos militares, com destaque para o Kubelwagen (tipo de camburão, que teve 55 mil unidades produzidas) e para os Schwimmwagen (carro anfíbio, com 15 mil unidades).
1944 - Os aliados atacam e destroem a fábrica.
1946 - Começa a reconstrução da fábrica e a produção é limitada.
1947 - Ingleses, Soviéticos e Norte-americanos não se interessam pela fábrica
1948 - Heinrich Nordhoff assume a presidência da fábrica e eleva a produção para 19.214 unidades/ano.
1949 - A produção cresce para 46.154 unidades e um acordo com a Chrysler permite a utilização da rede de revendas da marca norte-americana em todo o mundo. Foi o primeiro ano do Fusca nos Estados Unidos e apenas duas unidades foram vendidas.
1950 - O primeiro lote de Fuscas desembarca no Brasil, via porto de Santos. As 30 unidades que vieram foram rapidamente vendidas.
1951 - Morre Ferdinand Porsche.
1953 - Com peças da Alemanha, inclusive o motor de 1.200 centímetros cúbicos (cc), o carro começa a ser montado em um pequeno armazém alugado na Rua do Manifesto, no bairro do Ipiranga (zona sudeste de são Paulo).
1954 - O carro Volks começa a consquitar os norte-americanos, que o apelidam de Beetle (besouro).
1956 - A Volkswagen inicia a construçào de sua fábrica de 10,2 mil metros quadrados no Km 23,5 da via Anchieta (São Bernardo do Campo)
1957 - A fábrica solta seu primeiro produto, a Kombi.
1959 - O Fusca começa a ser produzido no dia 3 de janeiro, com um índice de nacionalização de 54%. A primeira unidade é adquirida pelo empresário paulista Eduardo Andrea Matarazzo. No dia 18 de novembro, a fábrica é inaugurada oficialmente. A Volks brasileira fecha o ano com 8.406 unidades vendidas.
1962 - O Fusca torna-se líder de vendas no Brasil, com 31.014 veículos vendidos.
1964 - A Volks lança o Fusca com teto solar, mas, apelidado de "Cornowagen", fica só alguns meses no mercado.
1965 - A Volks lança a versão "Pé de Boi", cerca de 15% mais parata (não possuia nenhum ítem cromado).
1967 - O carro troca o motor de 1.200 cc (36 cv) pelo 1.300 cc (46 cv) e, para aumentar a visibilidade, ganha um vidro traseiro 20% maior e os limpadores do pára-brisa são melhor posicionados.
1969 - Walt Disney lança o filme "Se Meu Fusca Falasse", no qual o carro, chamado de Herbie, nada, anda sobre duas rodas e até pensa.
1970 - O carro ganha opção de motor 1.500 cc (52 cv), bitola traseira 62 mm mais larga, eixo traseiro com barra compensadora, capô do motor com aberturas para ventilação, novas lanternas traseiras e passa a incorporar cintos de segurança dianteiros. Nesse ano, um incêndio destrói o setor de pintura da fábrica e o primeiro Fusca brasileiro é exportado para a Bolívia.
1972 - A Volkswagen do Brasil atinge a produção de 1 milhão de Fuscas.
1974 - O motor 1.600 cc (65cv) passa a ser opção para o Fusca. As vendas do carro batem recorde, com 237.323 unidades no ano, número que nunca seria superado.
1978 - A Volkswagen alemã deixa de produzir o Fusca.
1979 - O Fusca ganha motor movido a álcool e as lanternas traseiras crescem, sendo apelidadas de "Fafá".
1986 - O Fusca ganha bancos reclináveis com apoio de cabeça e janelas laterais traseiras basculantes. No final do ano, no entanto, por razões mercadológicas (as vendas decresciam anualmente desde 1980 devido à chegada de carros mais modernos), a Volks tira o carro de linha.
1987 - Com o fim do Fusca, o Opala é adotado pela Polícia Militar de São Paulo.
1993 - Setembro: oito meses após o pedido do então presidente Itamar Franco ao então presidente da Volkswagen Pierre-Alain De Smedt e com investimentos de US$ 30 milhões, a Volkswagem retoma a produção do Fusca. Entre as novidades do modelo, destacam-se vidros laminados, catalisador, barras estabilizadoras na dianteira e na traseira, pneus radiais, freios dianteiros a disco, reforços estruturais e cintos de segurança de três pontos. Pesquisa Datafolha aponta o Fusca como a marca mais lembrada. Por outro lado, as vendas ficam abaixo das expectativas e o preço do carro cai cerca de US$1.000.
1996 - Em junho, o Fusca novamente deixa de ser produzido. O México passa a ser o único país a produzir o carro. Em novembro é instituído oficialmente o dia do Fusca (20 de janeiro) .
1998 - No dia 14 de fevereiro, a fábrica de Puebla, no México, começa a produzir o novo Fusca em grande escala. O carro vira mania nos Estados Unidos. Em maio, a Volks promove um "recall" para trocar a fiação próxima à bateria devido à possibilidade de incêndio.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Até Quando?

Por José Saramago - da página O Caderno de Saramago. Boa leitura.
"Há uns dois mil e cinquenta anos, mais dia menos dia, a esta hora ou outra, estava o bom Cícero clamando a sua indignação no senado romano ou no foro: “Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência?”, perguntou ele uma vez e muitas ao velhaco conspirador que o quis matar e fazer-se com um poder a que não tinha qualquer direito. A História é tão pródiga, tão generosa, que não só nos dá excelentes lições sobre a actualidade de certos acontecidos outrora como também nos lega, para governo nosso, umas quantas palavras, umas quantas frases que, por esta ou aquela razão, viriam a ganhar raízes na memória dos povos. A frase que deixei acima, fresca, vibrante, como se tivesse acabado de ser pronunciada neste instante, é sem dúvida uma delas. Cícero foi um grande orador, um tribuno de enormes recursos, mas é interessante observar como, neste caso, preferiu utilizar termos dos mais comuns, que poderiam mesmo ter saído da boca de uma mãe que repreendesse o filho irrequieto. Com a enorme diferença de que aquele filho de Roma, o tal Catilina, era um traste da pior espécie, quer como homem, quer como político.
A História de Itália surpreende qualquer um. É um extensíssimo rosário de génios, sejam eles pintores, escultores ou arquitectos, músicos ou filósofos, escritores ou poetas, iluminadores ou artífices, um não acabar de gente sublime que representa o melhor que a humanidade tem pensado, imaginado, feito. Nunca lhe faltaram catilinas de maior ou menor envergadura, mas disso nenhum país está isento, é lepra que a todos toca. O Catilina de hoje, em Itália, chama-se Berlusconi. Não necessita assaltar o poder porque já é seu, tem dinheiro bastante para comprar todos os cúmplices que sejam necessários, incluindo juízes, deputados e senadores. Conseguiu a proeza de dividir a população de Itália em duas partes: os que gostariam de ser como ele e os que já o são. Agora promoveu a aprovação de leis absolutamente discricionárias contra a emigração ilegal, põe patrulhas de cidadãos a colaborar com a polícia na repressão física dos emigrantes sem papéis e, cúmulo dos cúmulos, proíbe que as crianças de pais emigrantes sejam inscritas no registo civil. Catilina, o Catilina histórico, não faria melhor.
Disse acima que a História de Itália surpreende qualquer um. Surpreende, por exemplo, que nenhuma voz italiana (ao menos que haja chegado ao meu conhecimento) tenha retomado, com uma ligeira adaptação, as palavras de Cícero: “Até quando, ó Berlusconi, abusarás da nossa paciência?” Experimente-se, pode ser que dê resultado e que, por esta outra razão, a Itália volte a surpreender-nos."
José Saramago

sexta-feira, 1 de maio de 2009

ALGUMAS PALAVRAS ACERCA DO 1º DE MAIO

Em 20 de junho de 1889 a II Internacional Socialista, reunida em Paris, propoôs que a cada 1º de maio os trabalhadores se organizassem para manifestar e expressar sua luta. Dessa maneira os socialistas reverenciavam a manifestação de trabalhadores ocorrida em Chicago nos Estados Unidos em 1886, cujo teor era exatamente a redução da jornada de trabalho de 12 e 16 horas para oito horas diárias.
A manifestação de 1º de maio de 1886 durou praticamente uma semana de confronto com os patrões e com a polícia, que prendeu e matou alguns trabalhadores.
Dessa luta nasceu o 1º de maio como feriado nacional e a redução da jornada de trabalho de 16 para 8 horas diárias. A França foi o primeiro país a adotar essas medidas (1919); a Rússia em seguida (1920). No Brasil, acredita-se que a primeira grande manisfestação de 1º de maio tenha ocorrido em Santos-SP (1895). Nessa época, Santos era um dos mais importantes centros operários do país.
O mais importante de tudo isso é não esquecermos a verdadeira essência do 1º de Maio, um dia de luta e de protesto contra a opressão capitalista sobre os trabalhadores. Infelizmente, em nosso país, a tentativa de descaracterizar essa data é marcante. Já em 1925 quando o governo brasileiro transformou o 1º de maio em feriado nacional, tinha tão somente a intenção de transformar esse dia num dia de festa nacional e não mais de lutas e protestos. E, a paritr de 1930, com Getúlio Vargas, se iniciará a tradição demagógica presidencial dos discursos que anunciam os parcos “aumentos” salariais.
No período de 1964 a 1985, a Ditadura Miliar intensificou a opressão contra os trabalhadores e contra sua manifestação do 1º de maio, só eram permitidos os atos oficias. Tais circunstância também fizeram do 1º de maio uma data de luta contra a Ditadura.
Com a Constituição de 1988 obtivemos uma séria de conquistas, tais como: Férias Remuneradas, 13º salário, Licença Maternidade, entre outras, seriamente ameçadas hoje em dia.
Enfim, não podemos perder o caráter combativo do 1º de maio. E, embora a boa música eleve nosso espírito e ajude a revigorar nossas forças, não podemos torná-lo um dia festivo com shows musicais.
Nossa grande esperança é que não existem só os propagadores de festas. Há também os que, apesar das intimidações dos discursos da ordem estabelecida, se preparam para a luta.
O historiador E. P. Thompsom, em sua obra “A Formação da Classe Operária Inglesa”, 2 ed., São Paulo: Paz e Terra, 1989, p. 303, traz uma importante fala de um verdureiro londrino da década de 1820:
“As pessoas imaginam que, quando tudo está quieto, está se estagnando. O propagandismo continua apesar disso. É quando tudo está quieto que a semente cresce, os republicanos e socialistas levam à frente suas doutrinas” (grifo meu).
Para não dizer que não falei de poesia, veja “Meu Maio”, de Vladimir Maiakvski:
A todos
Que saíram às ruas
De corpo-máquina cansado,
A todos
Que imploram feriado
Às costas que a terra extenua –
Primeiro de Maio!
Meu mundo, em primaveras,
Derrete a neve com sol gaio.
Sou operário –
Este é o meu maio!
Sou camponês - Este é o meu mês.
Sou ferro –
Eis o maio que eu quero!

segunda-feira, 27 de abril de 2009

TAMANHO É DOCUMENTO?



“Tá pensando que tamanho é documento?” Essa frase era bastante repetida na época de minha adolescência. Penso que ela é bem mais antiga! Em todo caso isso gerava e ainda pode gerar boas discussões...
Dia desses fui ao zoológico e fiquei cerca de 50 minutos observando os hipopótamos. Pude ver o momento em que eles saíam para comer e o seu retorno à água. Enquanto estavam na água mergulhavam de mansinho e ficavam muito tempo submersos, depois boiavam para respirar. E assim, demonstravam toda tranqüilidade possível! Ao sair da água, saiam em fila em direção ao monte de folhas destinadas à sua alimentação. O “kilo” era feito na água – também preso, é como diz meu avô, “nem pra comer doce”, melhor era voltar para água.
O “cavalo do rio”, conforme batizaram os primeiros europeus que o avistaram é um animal herbívoro que em idade adulta atinge quatro metros de comprimentos e pesa cerca de 3.500 quilos; se prefere passar a maior parte do tempo que a natureza lhe reservou dentro d’água (expectativa de vida do hipopótamo é de 40 anos), é porque a água o deixa mais tranqüilo e seguro. Porém, quando está fora d’água a “docilidade” desaparece a ponto levar no peito tudo que estiver a sua frente.
Depois dessa breve observação, penso que a pergunta continua: tamanho é documento? De qualquer maneira, o zoológico é um lugar em que, mesmo estando presos, os bichos ensinam valiosas lições aos seres humanos!!!

quinta-feira, 23 de abril de 2009

TRABALHADORES DA ARTE...


Carlos Sagra – da redação do Opinião Socialista
• A peça Foices, Facões, Fuzis estará em cartaz no Tendal da Lapa de 14 de março a 26 de abril, aos sábados e domingos, às 19h. A peça de Maria Cecília Garcia foi apresentada no dia 28 de fevereiro na comemoração de aniversário da Ocupação Pinheirinho, em São José dos Campos (SP).O Tendal da Lapa fica na rua Constança, 72, próximo ao nº 1.100 da rua Guaicurus. A entrada é Franca, e a peça integra a Campanha “Pague Quanto Quiser”.A peça Foices, Facões, Fuzis fala da luta pela terra no Brasil. A peça tem uma hora de duração e transcorre em cenário único: a casa da agricultora Antonia e seus filhos, uma família que vive sob a constante ameaça por parte dos fazendeiros. Eles armam seus capangas até os dentes para defender a propriedade privada da terra, atirando naqueles que ousam desafia-los.A peça é inspirada na obra de Bertold Brecht, Os Fuzis da Senhora Carrar, peça que trata da luta contra o fascismo na Espanha. Quando escreveu Os Fuzis da Senhora Carrar, Bertold Brecht queria falar da luta dos povos em defesa da democracia contra o fascismo. Para isso, enfocou os dramas de uma mulher que perdeu o marido nas Brigadas de autodefesa contra o exército de Franco durante Guerra Civil Espanhola de 1936 e cujo filho está prestes a tomar o mesmo caminho.Foices, Facões, Fuzis, esta adaptação da peça de Brecht, trata da luta que ocorre no campo brasileiro pela posse da terra. Os dramas podem não ser os mesmos, mas são muito semelhantes. Bem como as opções, as escolhas e as dores que elas provocam em nós. Brecht queria falar de um ser humano inserido em um campo de forças bem definido: ou vai à luta e arrisca a vida, ou se cala. Mas não existe neutralidade: calar-se também pode significar a morte.Na luta pela reforma agrária também não há opção. É o que mostra os exemplos de Chico Mendes, Doroty Stang, o massacre em Eldorado dos Carajás. Quem se mantém calado, com os braços cruzados, arrisca-se a ter de suportar uma vida sofrida de sem terra.Com a peça Foices, Facões, Fuzis o grupo Trabalhadores da Arte quer proporcionar um momento de emoção ao espectador e, ao mesmo tempo, fazer uma reflexão artística sobre a importância da reforma agrária no Brasil, sobre as contradições em que se debatem os trabalhadores sem-terra entre ocupar terras para poder plantar e criar seus filhos com dignidade, ou viver à míngua, como nômades famintos por este país afora.Vive-se uma permanente guerra civil no campo brasileiro. De um lado, os trabalhadores sem terra, bóias-frias, camponeses pobres. De outro, grandes fazendeiros, latifundiários e empresas multinacionais, proprietários de imensas extensões de terra. Os dramas gerados por essa situação de extrema desigualdade na distribuição de terra, as dores e alegrias da vida dos trabalhadores do campo, a solidariedade, o amor familiar, os conflitos de consciência, tudo isso conforma a matéria-prima desta peça.Sobre o grupoO Grupo Trabalhadores da Arte surgiu a partir de um Grupo de Estudos de Brecht, coordenado pela professora Lucia Capuani, que se reuniu semanalmente no Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, durante o ano de 2008. Também surgiu a partir do CAS (Coletivo de Artistas Socialistas), que congrega artistas de todas as áreas para debater o papel da arte na transformação do mundo. O grupo reúne artistas já experientes e outros recém-formados em cursos de artes cênicas, com o objetivo de mesclar experiências e expressar artisticamente as suas discussões estéticas.A grande preocupação do grupo é falar de nosso presente, de nosso aqui e agora, para um público ansioso por conhecer sua realidade não apenas pelos dados fornecidos pelos jornais e livros, pela ciência e pela política, mas também pelos canais por meio dos quais o homem, durante milênios, tem tentado compreender a vida: a arte.FICHA TÉCNICAO grupo Trabalhadores da Arte: Cléo Moraes, Natália Sanches, Denis Snoldo, Cristiano Nery, Eduardo Mancini, Bárbara Kanashiro, Marla O’Hara e Rozanna Lazzaro.Escrita e dirigida por Maria Cecília GarciaPreparação corporal: José Carlos FreyriaTrilha sonora: Ed LacostaCenários e figurinos: criados pelo próprio grupo.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Um presente para o Brasil...

Hoje é aniversário do Brasil. Gostaria de presentear esse país da maneira como acredito que o povo merece. Mas, aí, veio a questão: será que posso fazer isso? Sinceramente não sei. Ah, então vamos refletir um pouco sobre o meio ambiente? Esse presente, você e eu podemos dar ao Brasil e ao mundo, concorda? Na primeira conferência da Organização das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, realizada, no ano de 1972, em Estolcomo, na Suécia proclamou-se, conforme Guillermo Foladori (2001), em seu livro O limite do desenvolvimento sustentável, “o direito dos seres humanos a um meio ambiente saudável e o dever de protegê-lo e melhorá-lo para as gerações futuras.”





O que estas imagens nos dizem?


segunda-feira, 20 de abril de 2009

TIRADENTES

O homem e o mito. O mito e o homem. Qual deles foi mais "importante" para a História?

sexta-feira, 17 de abril de 2009

DIA DO ÍNDIO



Dezenove de abril, comemora-se no Brasil o dia do índio. Não quero, nesse momento, discorrer sobre a polêmica história do Brasil que sempre reservou ao índio um papel de coadjuvante, seja como selvagem, vilão ou romântico-coitadinho. Quero tão somente lembrar o importante papel do cacique Pancho Kaxinawá, que dedicou sua vida à organização dos povos indígenas do Alto Purus; pessoa a quem tive o privilégio de conhecer. Confesso que o meu primeiro contato com Pancho e sua família não foi nada confortável para mim, situação que o expriente cacique Kaxinawá rapidamente percebeu e sabiamente tentou contornar. O meu embaraço era visível e não menos compreensível em se tratando de um garoto de 15 anos, porém injustificável. Eu descia o rio Purus de passagem (carona) com Pancho, ia do seringal Itaúba à cidade de Sena madureira, no Acre. No batelão, Pancho trazia sua família nuclear e mais alguns parentes seus; pelo que pude perceber, de branco só havia eu. Por volta de onze horas da manhã um curumim entregou-me uma cuia com um mingal estranho... Pancho percebendo que eu estava receioso, brincou comigo: "o que foi, não tá com fome?" Eu não sabia o que dizer, nem como me comportar. Então perguntei: - é caiçuma? - não, respondeu ele, esse é um mingal de milho (falou o nome mas eu não recordo agora), a ciçuma é feita de mandioca, vai vim depois. Não tive escapatória, fechei os olhos e fui bebendo aos goles o tal mingal (e os meus preconceitos) enquanto Pancho falava das propriedades do milho...

Só depois de alguns anos vim a saber quem era aquele índio...

Panco kaxinawá não está mais entre os vivos, mas, sua luta continuará inspirando as novas gerações indígenas do Alto Purus. E por que não contribuindo com a educação dos "brancos"?

sábado, 21 de março de 2009

A escrita da História-Pátria

Desde sua fundação, em 1838, até os primeiros anos da terceira década do século XIX o principal, senão o único, centro de estudos históricos do Brasil será o IHGB. Aqui, durante esse período, será o lugar privilegiado da produção histórica: o Brasil é pensado e as interpretações do passado brasileiro irão alavancar os vários projetos de uma visão nacional.
“O Brasil independente, portanto, precisava da história e dos historiadores para se oferecer um passado e abrir-se um futuro” (REIS, 2002, P. 26). Foi nesse contexto que em 1840 o Instituto Histórico Geográfico Brasileiro lançou o desafio, através de um concurso, da elaboração de um plano para a escrita da história do Brasil. “Como se deve escrever a história do Brasil”. Foi o título da monografia premiada; seu autor foi o botânico e viajante alemão Karl Philipp Von Martius. A partir desse texto se entranhou entre as elites a interpretação do Brasil Nação.
A história de um Brasil unido, monárquico e cristão, era a história de que as elites precisavam. As elites precisavam de uma história do Brasil que elogiasse o herói português, conquistador e senhor das garantias físicas e morais do Brasil. As elites precisavam, segundo José Carlos Reis, de

"[...] uma história que não falasse de tenções, separações, contradições, exclusões, conflitos, rebeliões, insatisfações, pois uma história assim levaria o Brasil à guerra civil e à fragmentação: isto é, abortaria o Brasil que lutava para se construir como poderosa nação. O que Von Martius tinha elaborado não era uma tal história ainda, mas somente o seu projeto, que ele próprio se recusara de levar a diante. Com certeza, após avaliar a enormidade do trabalho a fazer. Faltava, portanto, o historiador brasileiro que poderia realizar tal projeto da história do Brasil "(2002, p. 28)

Martius, como vimos, apresentou o projeto de “como se deve escrever a história do Brasil” mas se recusou a levar a diante. A tarefa, então, foi assumida por Varnhagen, que teria seguido o modelo proposto pelo alemão. O “Heródoto do Brasil”, como Varnhagen é considerado, é responsável pela “mais completa e positiva colheita documental empreendida especialmente no estrangeiro” (RODRIGUES, 1978, p. 47).
Trata-se do trabalho mais importante do Varnhagen: História Geral do Brasil, de 1854. Segundo José Carlos Reis superou as principais obras sobre a história do Brasil escritas anteriormente, dentre elas História da província de Santa Cruz (1576), de Pero de Magalhães Cândavo; História do Brasil (1627), de Frei Vicente do Salvador; História da América Portuguesa (1730), de Sebastião da Rocha Pita; História do Brasil (1810), de Robert Southey. A superação, aqui não significa que as obras citadas mereçam ser descartadas.
As condições históricas viabilizam a História Geral do Brasil, pois,
"processo da independência política e a constituição do Estado Nacional amadurecem nos anos de 1850. E foi no interior desse processo histórico que ocorreu a condição favorável ao surgimento da obra de Varnhagen: a institucionalização da reflexão e da pesquisa histórica no IHGB" (REIS, 2002, pp. 23-24).

Esse pequeno texto faz parte de um trabalho que realizei em 2005. Gostaria de dá continuidade na discussão. Gostaria de receber contribuições e sugestões... Obrigado.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Dia das "Mulheres..."

Pernas em exibição, transgredindo as convenções do século XIX; cabelos, tradicionalmente longos, apareciam cortados; saias curtas prenunciavam o abandono do corpete. Tudo isso, entre outros, eram sinais e reivindicações de liberdade sexual feminina no alvorecer do século XX (hoje o mercado da moda não aceita mais mulheres que mostrem apenas pernas e bustos...). Mais do que isso. Questões como essa estão inseridas num conjunto de transformações culturais e históricas ocidentais.
A história não se transforma de um dia para o outro, bem o sabemos, nem é a mesma em todos os lugares. Também não são os mesmos homens e mulheres nos diferentes espaços geográficos e sociais. Assim, as mulheres são diferenciadas não só de acordo com a cultura, mas também através de um fator, quase que “esquecido”, chamado classe social. Isto significa que embora a fisiologia seja a mesma, os gostos, interesses e lutas são diferentes. Pois, enquanto as mulheres das classes médias de países europeus, como a Inglaterra, ou dos Estados Unidos militavam ativamente em campanhas como a “suffragettes”, sufragistas, que reivindicavam dramaticamente o direito de voto feminino, as mulheres da classe operária tinham necessidades mais urgentes do que o direito de voto. Para elas, os ganhos obtidos à custa de duríssimas jornadas de trabaho não eram apenas complementação da renda do marido.
Podes-se dizer que isso é um legado da sociedade industrial, afinal as 129 mulheres que morreram carbonizadas no dia 8 de março de 1857 não eram esposas dos patrões, eram mulheres trabalhadoras da indústria têxtil que protestavam contra as péssimas condições de trabalho e minguados salários.
Conforme Eric Hobsbawm, em sua obra A era dos impérios (2001, p. 282), na política popular da sociedade pré-industrial, as mulheres já haviam deixado sua marca. Por exemplo: Foram mulheres de Paris que marcharam sobre Versalhes demonstrando ao rei que o povo exigia o controle dos preços dos alimentos. Essa foi uma das maneiras, entre tantas outras, que a mulher participou da importante Revolução Francesa.
Viva a luta das mulheres trabalhadoras!
Que elas vivam para que nós amemos e sejamos amados!

Curiosidades:
1905, a alemã Bertha Von Suttner foi Prêmio Nobel da Paz.
1908, pouco mais de cem anos de nós, foi o ano em que foi nomeada a primeira mulher professora universitária, na Alemanha.
1909 a sueca Selma Lagerlof ganhou o Prêmio Nobel de literatura.
Alguém lembra da primeira enfermeira do Brasil, Ana Nery? E as outras mulheres que contribuiram e contribuem com este país?

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

História e Imaginação - as belezas da vida e da arte

Vez por outra penso numa frase de Charles Chaplin: “Estudei o homem, porque se assim não o fizesse, não conseguiria realizar nada em meu ofício”. Essa é uma das características comuns entre o professor/pesquisador e o cineasta. Compreender os caminhos da história e a trajetória humana é fundamental para se alcançar o sucesso e encontrar as belezas da vida. Daí para frente, que perdure a imaginação...